Papa no Sudão do Sul: deponhamos as armas do ódio, o amor muda a história

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Papa no Sudão do Sul: deponhamos as armas do ódio, o amor muda a história

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“Em nome de Jesus, das suas Bem-aventuranças, deponhamos as armas do ódio e da vingança para embraçar a oração e a caridade. Aprendamos a colocar nas feridas o sal do perdão, que causa ardida mas cura”. São palavras do Papa Francisco na Santa Missa no Mausoléu “John Garang” em Juba neste domingo, 5 de fevereiro

No seu último dia de visita ao Sudão do Sul, o Papa celebrou a Santa Missa no Mausoléu de “John Garang” na manhã deste domingo 5 de fevereiro na presença, segundo as autoridades locais de mais de 100 mil pessoas. Na sua homilia, o Papa Francisco recordou as palavras do Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto quando disse: “Não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo e, Este, crucificado” (1 Cor 2, 1-2). “A trepidação de Paulo”, disse o Papa, “é também a minha, ao encontrar-me aqui convosco em nome de Jesus Cristo, o Deus do amor, o Deus que realizou a paz através da sua cruz”. E disse: “Jesus conhece-vos e ama-vos; se permanecemos n’Ele, não devemos temer, porque, também para nós, cada cruz se há de transformar em ressurreição, cada tristeza em esperança, cada lamento em dança”. “Por isso”, acrescentou, “quero deter-me nas palavras de vida que Jesus nosso Senhor nos dirigiu hoje no Evangelho: ‘Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo’ (Mt 5, 13.14). Estas imagens, o que nos dizem a nós, discípulos de Jesus?

As bem-aventuranças, o sal da vida

“Em primeiro lugar, somos sal da terra” observou o Papa , pois o sal “é o ingrediente invisível que dá gosto a tudo. Por isso mesmo, desde a antiguidade, foi visto como símbolo da sabedoria, uma virtude que não se vê, mas que dá gosto à vida e sem ela a existência torna-se insípida, sem sabor”. E o Papa questiona sobre a sabedoria que Jesus no fala afirmando que ele usa esta imagem do sal imediatamente depois de ter proclamado aos seus discípulos as Bem-aventuranças: compreendemos assim que são elas o sal da vida do cristão. E pede a todos para que se recordem bem:

“Se pusermos em prática as Bem-aventuranças, daremos bom gosto não apenas à nossa vida mas também à sociedade, ao país onde vivemos”

“Além de dar sabor”, continuou, “o sal tem outra função, que era essencial no tempo de Cristo: conservar os alimentos para não se corromperem estragando-se. Mas a Bíblia diz que havia um ‘alimento’, um bem essencial que se devia conservar antes de qualquer outro: a aliança com Deus”. Por conseguinte, o discípulo de Jesus, enquanto sal da terra, é testemunha da aliança que Ele realizou e nós celebramos em cada Missa: uma aliança nova, eterna, inquebrável. Prosseguindo sua homilia o Santo Padre disse aos presentes, “somos testemunhas desta maravilha”.

“Nós, que somos sal da terra, estamos chamados a testemunhar a aliança com Deus na alegria, com gratidão, mostrando que somos pessoas capazes de criar laços de amizade, viver em fraternidade, impedir que prevaleçam a corrupção do mal, a patologia das divisões, a sujeira dos negócios iníquos, a praga da injustiça”

Vós não sois pequenos e impotentes

E o Papa agradeceu a todos por serem o “sal da terra neste país”. Entretanto, continuou, “vendo tantas feridas, as violências que alimentam o veneno do ódio, a iniquidade que causa miséria e pobreza, poder-vos-ia parecer que sois pequenos e impotentes”. E Francisco chamou a atenção sobre este ponto afirmando: “Quando vos assaltar a tentação de vos sentirdes inadequados, procurai olhar para o sal e seus grãos minúsculos: é um pequeno ingrediente que, uma vez espalhado sobre a iguaria, desaparece, derrete-se, mas é justamente assim que dá sabor a todo o conteúdo”.

“De igual modo nós cristãos, apesar de ser frágeis e pequenos, mesmo quando nos as nossas forças parecem insignificantes se comparadas com a grandeza dos problemas e a fúria cega da violência, podemos oferecer uma contribuição decisiva para mudar a história”

E sugere: “Comecemos precisamente do pouco, do essencial, daquilo que não aparece nos livros de história, mas muda a história: em nome de Jesus, das suas Bem-aventuranças, deponhamos as armas do ódio e da vingança para embraçar a oração e a caridade; superemos as antipatias e aversões que, com o passar do tempo, se tornaram crônicas e correm o risco de levar à contraposição de tribos e de etnias; aprendamos a colocar nas feridas o sal do perdão, que causa ardida mas cura.

Vós sois a luz do mundo

Depois Francisco passou à segunda imagem usada por Jesus: “Vós sois a luz do mundo”. Deus Pai enviou o seu Filho; é Ele a luz do mundo. Mas o próprio Jesus, luz do mundo, diz aos seus discípulos que também eles são luz do mundo. Isto significa que nós, acolhendo a luz de Cristo, a luz que é Cristo, tornamo-nos luminosos, irradiamos a luz de Deus.

“Irmãos e irmãs, o convite de Jesus para ser luz do mundo é claro: nós, seus discípulos, somos chamados a refulgir como uma cidade situada no alto, como um candelabro cuja chama não deve ser apagada”

“A nós, pois, é-nos pedido para arder de amor”, prosseguiu Francisco, “não suceda que a nossa luz se apague, que desapareça da nossa vida o oxigênio da caridade, que as obras do mal tirem o ar puro ao nosso testemunho”.

“Esta terra, tão bela e tão martirizada, precisa da luz que tem cada um de vós, ou melhor, da luz que cada um de vós é”

Por fim o Papa concluiu fazendo votos que que todos sejam o sal que se espalha e derrete generosamente para dar sabor ao Sudão do Sul com o gosto fraterno do Evangelho; serem comunidades cristãs luminosas que lancem uma luz benéfica sobre todos e mostrem que é belo e possível viver a gratuidade, ter esperança, construir todos juntos um futuro reconciliado”.

Fonte: Vatican News
Foto: Vatican Media